O tiro no pé do Enézio e o estrago devastador de Kavalco-Pazza contra a Nomenklatura científica

sábado, outubro 03, 2009


O tiro no pé do Enézio e o estrago devastador de Kavalco-Pazza contra a Nomenklatura científica

Yom Kippur 5770 já passou. Tempo que os judeus em todo o mundo pediram perdão a D’us e daqueles a quem ofenderam e foram ofendidos verbalmente. Nada se faz neste dia, a não ser o que for considerado necessário e justo. Eu me lembro do Yom Kippur 1973, quando Israel entrou em guerra contra os árabes no Dia de Perdão. Parece paradoxal demais não é mesmo? Perdão, guerra? Todavia, algo tinha que ser feito, e valeu a pena: a sobrevivência de Israel. Apesar da superioridade numérica dos seus inimigos, Israel venceu aquela guerra e continua existindo como nação.

Por que trazer o Yom Kippur à baila? Explico. Há muito tempo este blogger desistiu de participar de debates online com darwinistas ortodoxos, fundamentalistas, pós-modernos, chiques e perfumados a la Dawkins. Por várias razões. Por mais que os críticos e oponentes do darwinismo se portem civilmente, vêm os ataques verbais ad-hominem. Quando refutados, os darwinistas partem para a estratégia retórica infalível: não respondem o que foi questionado anteriormente, levantam outros argumentos e questões dando a impressão ao leitor que o crítico não sabe do que está falando, e suas críticas contra a teoria da evolução de Darwin são taxadas de cientificamente infundadas.

Fica fácil perceber esta falta de objetividade e, por mais que alguém saia de cena polidamente, você vê revelado um comportamento selvagem dos neo-buldogues, neo-pitbulls e neo-rottweilers de Darwin − agem como bando de hienas sobre o oponente que não pode mais se defender. Foi o que aconteceu comigo recentemente no Observatório da Imprensa.

Eu li o artigo “Desonestidade na divulgação científica” de Rubens Pazza, de 22/09/09, sobre a suposta desonestidade da jornalista Ligia Houghland no artigo “Descoberto fóssil que altera teorias sobre dinossauros”. Eu entrei no debate com um contraponto interrogativo: a desonestidade é somente da jornalista? E as fraudes há muito conhecidas pelos biólogos em alguns livros didáticos aprovados pelo MEC/SEMTEC/PNLEM?

A desonestidade científica referida é a abordagem da evolução por autores de livros-texto de Biologia do ensino médio aprovados pelo MEC/SEMTEC/PNLEM veiculando duas fraudes e distorções de evidências científicas a favor da evolução. Uma fraude centenária — o desenho ou figura dos estágios de desenvolvimento embrionário de vertebrados de Haeckel parar corroborar a hipótese da ancestralidade comum. A outra fraude é mais recente − as mariposas salpicadas (Biston betularia) de Manchester para demonstrar a evidência direta de evolução através da seleção natural ocorrendo diante de nossos olhos.

Pazza replicou: a evolução, como qualquer ciência (sic, eu pensei que a Biologia é que fosse a ciência e a evolução apenas uma teoria científica. Você conhece a ciência do Big Bang? Ou a ciência da Relatividade?), tem hipóteses e teorias que podem ser questionadas e se renovam devido as novas evidências. Em seguida veio o ar triunfalista dos darwinistas ortodoxos: em 150 anos de estudos evolutivos nenhuma evidência desmente o fato de os organismos vivos descenderem de um ancestral comum e que a descendência com modificações acontece. Será? Nada mais falso, ou traduzido em graúdos: Pazza está em descompasso com a verdade histórica. E desatualizado na literatura científica a respeito da Árvore da Vida. Não seria melhor ‘gramado da vida’?

Eu desconheço a condição de acesso a publicações científicas que Pazza tem na Universidade Federal de Viçosa, mas pesquisas e trabalhos que ‘podaram’ de vez a Árvore da Vida de Darwin podem ser acessados por professores, pesquisadores e alunos de universidades pública ou privadas no site CAPES/Periódicos.

Cito aqui apenas três artigos:

PATTERSON, C. et al., “Congruence Between Molecular and Morphological Phylogenies”, Annual Review of Ecology and Systematics, Vol. 24: 153-188 (1993). Neste artigo PATTERSON et al compararam as árvores filogenéticas baseadas na morfologia com as baseadas em moléculas, e descobriram que há muito pouca congruência entre os dois tipos de árvores, dando a entender que a evolução darwiniana tem feito predições frágeis a respeito de confirmações esperadas de ancestralidade comum a partir da biologia molecular.

Eles expressaram desapontamento com suas descobertas: “As morphologists with high hopes of molecular systematics, we end this survey with our hopes dampened. Congruence between molecular phylogenies is as elusive as it is in morphology and as it is between molecules and morphology.”

DOOLITTLE, W. F., “Phylogenetic Classification and the Universal Tree”, Science, Vol. 284:2124-2128 (June 25, 1999). DOOLITTLE explica neste artigo que a base da “Árvore da Vida” é impossível de se transformar numa árvore porque a distribuição dos genes entre os principais grupos de vida não se encaixa num padrão nítido de ancestralidade comum. DOOLITTLE afirmou: “Molecular phylogenists will have failed to find the ‘true tree,’ not because their methods are inadequate or because they have chosen the wrong genes, but because the history of life cannot properly be represented as a tree.”

LOPEZ, P.; BAPTESTE, E., “Molecular phylogeny: reconstructing the forest”, Comptes Rendus Biologies, doi:10.1016/j.crvi.2008.07.003 (2008). LOPEZ e BAPTESTE abandonaram a caracterização da vida como uma “árvore” darwiniana. Os autores preferem uma metáfora de “floresta”. Eles afirmam no artigo: “instead of focusing on an elusive universal tree, biologists are now considering the whole forest corresponding to the multiple processes of inheritance, both vertical and horizontal. This constitutes the major challenge of evolutionary biology for the years to come.” Assim, parece que as noções tradicionais de uma árvore da vida darwiniana estão sendo abandonadas.

Pazza afirmou que a evolução acontece. Mas de qual evolução ele está falando? Ele não definiu, mas o termo evolução é muito elástico. Por demais elástico e nunca definido. Tem pelo menos três significados e os alunos não são informados disso nos livros-texto:

Evolução 1: As formas de vida atuais são diferentes das que existiram num passado mui distante. É a “mudança ao longo do tempo”, e pode se referir também a pequenas mudanças em características de espécies individuais que ocorrem em pouco tempo.

Evolução 2: A palavra “evolução” é associada com a ideia de que todos os atuais organismos descendem de um único ancestral comum em algum lugar no passado bem distante. É a hipótese do último ancestral comum universal (Last Universal Common Ancestor ou simplesmente descendência com modificação ao longo do tempo), geralmente retratando a história evolutiva da vida através de uma grande árvore de galhos ramificantes.

Evolução 3: O termo “evolução” é usado também para se referir à(s) causa(s) ou ao(s) mecanismo(s) de mudança(s). É o processo biológico que Darwin pensou fosse responsável por este padrão de árvores com galhos ramificantes. Ele argumentou que a seleção natural tinha o poder de produzir novas formas de vida.

As ideias do ancestral comum universal e a seleção natural formam, grosso modo (e para o leigo do Observatório da Imprensa entender), o fundamento da Síntese Evolutiva Moderna que combina o nosso atual conhecimento do DNA e da genética para afirmar que as mutações no DNA fornecem a variação sobre a qual age a seleção natural.

Mudança ao longo do tempo? Isso não é problema para o Design Inteligente, e nem tampouco para os criacionistas. Quanto à imprensa, ela tem sim muito a ver com tudo isso: não existe o contraponto. “Não damos espaço” (Marcelo Leite, perguntado sobre o avanço do criacionismo (e por tabela o design inteligente) no Brasil no encerramento de uma conferência sobre a evolução, na Faculdade de Medicina da USP em 2006).

Pazza afirmou que “o lamento eneziano talvez seja útil para ganhar mais dinheiro do povo inculto”. De onde ele tirou esta ideia de que ganho dinheiro do povo inculto? Não recebo dinheiro de povo inculto. Nem para o doutorado de História da Ciência, onde preencherei o máximo requisito para ser levado a sério pela comunidade científica: ganhar um tacape!

Depois, no que chamo de rompante al sugo pazzano [pazzo significa louco em italiano], fui desafiado a trazer evidências a favor do criacionismo! Pazza, passa fuera, pois não advogo essas teses, e nem navego em tais águas.

Eu deixei bem claro no OI: a questão hoje em dia não é se as especulações transformistas de Darwin contrariam relatos de criação de textos de concepções religiosas, mas se as evidências encontradas na natureza corroboram ou não as teses de Darwin.

Pazza sabe, mas finge não saber: a seleção natural não fecha esta conta epistêmica desde 1859, e que a rejeição à capacidade criativa da seleção natural não é coisa recente e nem se deu somente entre os religiosos nefastos e inimigos da ciência, mas até de cientistas notórios do círculo íntimo de Darwin como Thomas Huxley, Joseph Hooker, Charles Lyell e St. George Jackson Mivart (mais tarde expulso da confraria darwiniana por discordar da teoria da seleção natural de Darwin) e outros.

No seu livro “Os sete saberes necessários à educação do futuro”, Edgar Morin sugeriu à UNESCO incluir o estudo das incertezas que surgiram nas ciências físicas, nas ciências da evolução biológica e nas ciências históricas no século XX.

No dia 1º de outubro eu apresentei o trabalho “A sugestão de Edgar Morin para o ensino das incertezas das ciências da evolução química e biológica – uma bibliografia brevemente comentada”, no II Congresso Nacional de Licenciaturas (Universidade Presbiteriana Mackenzie). Ali, eu apresentei alguns exemplos da discussão por especialistas de algumas linhas de evidências usadas para defender a evolução química ou biológica em livros-texto de biologia do ensino médio aprovados pelo MEC/SEMTEC/PNLEM.

Os argumentos apresentados por aqueles cientistas, especialistas de renome internacional, contradizem aspectos fundamentais das atuais teorias da evolução química e biológica apresentados nos livros didáticos. Quais são as implicações para a evolução química e biológica em um contexto de justificação teórica? Na biologia do século 21, Darwin dos séculos XIX e XX não fecha a conta epistêmica. Pazza, passa longe e nem quer saber disso. É compreensível...

Note que a questão principal levantada por Pazza foi desonestidade da divulgação da jornalista. Eu apresentei a desonestidade dos autores de livros didáticos de Biologia do ensino médio aprovados pelo MEC/SEMTEC/PNLEM com duas fraudes e evidências científicas distorcidas a favor do fato, Fato, FATO da evolução. Isso parece não incomodá-lo nem um pouco. O darwinismo é pródigo na falta de ética. A história da ciência registra várias instâncias em que fraudes foram perpetradas, mas o que é uma, duas, três fraudes em nome de Darwin, não é mesmo? O que importa é Darwin über alles!

Pazza mencionou as evidências de evolução por seleção natural ou por outros mecanismos como sendo vastamente documentadas em periódicos científicos em artigos revisados no PNAS, Nature, Science e Evolution, e de exemplos de como a seleção natural age. Todavia, ele não mencionou existirem também artigos nessas publicações científicas questionando a capacidade criativa da seleção natural e desses mecanismos evolutivos. Além disso, Pazza não afirmou se a seleção natural, ou quaisquer outros mecanismos evolutivos, são capazes de criar informação genética que resulte em macroevolução. Pazza, algum processo evolutivo cria informação genética macroevolutiva? Eu não conheço nenhum! Alguém conhece?

Depois, seguindo a colocação de um comentarista sensato ( Fernando Scultz, Agudo, RS, Físico), Pazza mencionou ser necessária a distinção entre fraude e equívoco, e que se houvesse fraude, eu deveria apontá-la. Destaco: durante a discussão com os autores de livros didáticos, por e-mail, ficou claro que não houve equívoco da parte deles sobre essas fraudes. Eles sabiam, mas fingiram não saber. Em 2003 e 2005 eu enviei, entreguei e protocolei pessoalmente no MEC/SEMTEC uma análise críticas da abordagem da evolução apontando essas fraudes e distorções das evidências. O MEC/SEMTEC nada fez, pois nada mudou desde 2003.

Pazza sugeriu que eu escrevesse um artigo científico e o encaminhasse para publicação na revista Evolution ou para a Evolution, Education and Outreach, que trata do ensino de evolução. A sugestão é boa, mas impraticável, mesmo que o meu argumento seja científico, os editores não o publicarão. Razão? O atual processo de revisão por pares não admite ideias contrariando o paradigma vigente. Eu sei do que estou falando. Chamo isso carinhosamente de ‘guardas-cancelas’, oops, peer-reviewers é mais chique!

Pazza concorda comigo: há bastante equívocos, erros e desatualizações nos livros didáticos que devem ser revisados. Contudo, a minha acusação de fraude é grave, mas não é leviana. Eu discordo de Pazza: o MEC não está comprando livros muito ruins porque são os professores que estão errando na escolha.

O motivo exato que os leva a errar na escolha já vem pronto: a comissão do PNLEM que analisa criticamente os aspectos conceituais, metodológicos e éticos, e faz algumas sugestões para a prática pedagógica, mas não indica essas ‘zonas de incertezas’ na análise feita para o MEC/SEMTEC. O que os professores do ensino médio recebem é apenas uma cópia do “Biologia: catálogo do Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio” (válido até 2011) para escolherem os livros adequadamente. Coitados desses professores que, infelizmente, não têm a devida competência e nem acesso à literatura especializada para identificar o descompasso com a verdade científica por parte da comissão do PNLEM.

O que fazer para minimizar os erros? Simples: a comissão do PNLEM sabe que ciência e mentira não podem andar de mãos dadas e deve seguir as evidências aonde elas forem dar. Se isso não funcionar, que tal convocar uma audiência pública na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados ou do Senado, convocando o MEC/SEMTEC/PNLEM para explicar publicamente o porquê da aprovação desses livros fraudulentos? Eu topo esta parada! Pazza topa? A comissão do PNLEM topa?

Mantive e mantenho as acusações feitas do uso de duas fraudes: as mariposas de Manchester [melanismo industrial] e os desenhos dos embriões de vertebrados de Haeckel. Que eu saiba, nada foi feito publicamente. Dos autores analisados, apenas Amabis & Martho retiraram as fraudes, mas não disseram em edições posteriores porque retiraram e o que isso significa para uma teoria científica no contexto de justificação teórica.

Se os nossos livros didáticos de Biologia ensinam nossos alunos do ensino médio por meio de fraudes e distorções de evidências, não é estranho que a sugestão de Edgar Morin feita à UNESCO em 1999 de se ensinar essas zonas de incertezas também não façam parte das grades de licenciaturas de Biologia no Brasil. Além de atrapalhar o avanço da ciência, nome disso é desonestidade acadêmica, e flagrante evidência de violência à cidadania dos alunos ao seu direito de acesso a informações científicas. Isso, Pazza, é muito mais grave do que um pequeno escorregão de uma jornalista supostamente criacionista. A jornalista Ligia Houghland esclareceu a Pazza que não é criacionista.

No desenrolar do debate, Pazza perguntou-me se eu tinha lido todos os artigos sobre as mariposas salpicadas. Respondi que não, pois isso é impossível de ser feito por qualquer pessoa, mas que tinha lido os mais importantes. Pazza pediu que eu replicasse o artigo Industrial Melanism in the Peppered Moth, Biston betularia: An Excellent Teaching Example of Darwinian Evolution in Action, de Majerus et al, in Evolution, edição de março de 2009. Li o artigo e não tinha nada o que replicar, pois os autores em questão tão-somente reconheceram as falhas dos experimentos realizados.

Pazza destacou a necessidade de colocar o tema em contexto. Como fazer isso no pequeno espaço concedido pelo OI, ele não disse. O bom é que ele reconheceu publicamente: Haeckel fraudou seu experimento e que, revisado recentemente por pesquisadores independentes, foi refutada a teoria da recapitulação − a ontogênese recapitula a filogênese. É este tipo de história da ciência que precisa aparecer, mas não aparece nos livros didáticos de Biologia do ensino médio. Por que não aparece, Pazza? É porque mostra a que ponto de desonestidade chegam os darwinistas para demonstrar o fato, Fato, FATO da evolução.

Mas, e aqui é que mora o detalhe, Pazza afirmou que a fraude de Haeckel chamou a atenção para o óbvio (ululante) − existem muitas semelhanças no desenvolvimento. E daí? Ele citou os estudos sobre o desenvolvimento e a genética do desenvolvimento estarem muito avançados e que a evolução dos homeoboxes é um tema muito rico para o campo da evodevótica, e que em nenhum momento este fato (o desenho dos embriões fraudados por Haeckel) inviabiliza a evolução biológica.

Gente, eu não sei como, mas não comentei esta questão no OI. Realmente, os estudos sobre desenvolvimento e a genética do desenvolvimento são áreas científicas muito avançadas, mas Pazza não seguiu o conselho que me deu de contextualizar a questão. Vamos lá. Esta área é conhecida como “evo-devo” (evolutionary developmental biology, termo cunhado nos anos 1990s) e é mais uma tentativa darwinista de explicar a macroevolução. Só que mais rápida, com baixo custo, mas em detrimento à visão gradualista de Darwin. Pazza, passou longe de explicar isso. Por quê?

A evo-devo é a junção de duas disciplinas: biologia evolutiva que estuda os mecanismos pelos quais as populações de organismos mudam ao longo das gerações, e a biologia do desenvolvimento que estuda os mecanismos pelos quais os organismos individuais crescem a partir da concepção à maturidade.

O ponto heurístico inicial da evo-devo é que os mecanismos genéticos são importantes para a biologia evolutiva e de desenvolvimento: procura genes importantes que influenciam o desenvolvimento, e que isso, a princípio, poderia influenciar as mudanças no desenvolvimento e levaria à uma mudança macroevolutiva. Embora uma área científica promissora, a evo-devo enfrenta uma crise: os cientistas têm conseguido somente algum progresso na compreensão de como os mecanismos de desenvolvimento genético auxiliam nas mudanças microevolutivas. Pazza, também passou por cima disso.

William Jeffrey, biólogo evolucionista de desenvolvimento, da Universidade de Maryland, citado em artigo de Elizabeth Pennisi, admite que a tentativa da evo-devo em entender como que os genes de desenvolvimento induzem a mudanças macroevolutivas se encontra “at a dead end” [num beco sem saída]. Vide PENNISI, Elizabeth. “Evo-Devo Enthusiasts Get Down to Details”, Science 298, 1 November 2002:953. Traduzindo em graúdos, a evo-devo é uma paleontologia de genes sem fósseis.

Quanto às mariposas, Pazza afirmou que Majerus já rebateu assim as acusações de Janet Hooper: “Eu tenho estudado as mariposas salpicadas há 40 anos, tendo encontrado na natureza mais do que qualquer outra pessoa viva, e tenho lido mais de 200 artigos científicos sobre o caso. Minhas conclusões são simples − esta ainda é uma ilustração perfeita de evolução por seleção natural”. E se Majerus, apesar de ter estudado as mariposa por 40 anos, e ter lido mais de 200 artigos sobre questão, estiver errado? Parece que Janet Hooper está certa, apesar do argumento ad baculum de Majerus.

A ética “o fim justifica os meios” de Pazza me assusta: “Se as mariposas foram coladas no tronco ou não, pouco importa para a pergunta que foi respondida”, e que eu trouxesse evidência porque minha denúncia de divulgação científica fraudulenta nos livros didáticos era vazia. Pazza, fraude é fraude. Ponto final. Tentar justificar, também!

Rídicula, para não dizer patética, a afirmação de Pazza sobre esses livros: basta ter patrocínio para bancar a publicação, e gente opinando sobre o que deve e o que não deve ser ensinado nas escolas. Concordo com Pazza: na aula de ciências deve-se ensinar ciências, e que devido ao avanço científico atual ser tão avassalador é impossível ensinar detalhes minuciosos de cada evento natural. Discordo de Pazza de que não haja abertura e nem maturidade intelectual dos alunos para compreenderem o processo de fotossíntese pelos detalhes de como a rubisco, principal enzima da fase escura, é inativada pela ausência de luz.

Alô galera de alunos do ensino médio: Pazza disse que vocês não têm capacidade intelectual de entender a evolução! A garotada de hoje tem mais capacidade intelectual e sabe muito mais biologia do que Darwin. Pazza, não desenvolver nos alunos a curiosidade científica da descoberta e o pensamento crítico é descumprir o prescrito pela LDB 9394/96 e pelos atuais PCNs do ensino médio.

Pazza afirmou que os professores e escritores de livros didáticos precisam estar atualizados, e a impossibilidade de repassar todo o avanço científico aos alunos até mesmo nas universidades. Pera aí, Pazza, nós estamos falando de duas fraudes: uma centenária e há muito conhecida dos biólogos (os desenhos dos embriões vertebrados de Haeckel) e a outra mais recente (o experimento de Kettlewell com as mariposas Biston betularia). Além disso, Pazza, Amabis é professor na USP. Ele está atualizado nessas questões aqui levantadas.

Pelo menos a fraude de Haeckel já deveria ter sido removida dos livros didáticos de Biologia do ensino médio há muito tempo. Mas eu não dou um desconto para a segunda fraude, porque uma década é tempo suficiente para se atualizar o conteúdo desses livros.

Pazza disse que sou desonesto porque acusei de fraude os autores de livros didáticos e o MEC/SEMTEC/PNLEM se me dar ao trabalho de buscar informações adequadas de outras fontes. Durma-se com um barulho desses: existe farta documentação na literatura especializada sobre estas duas fraudes. Aqui cabe um processo por danos morais contra Pazza, mas isso é questão para se pensar depois com a cabeça fria.

Em seguida Pazza me perguntou se eu tinha lido todos os artigos sobre a mariposa "Biston betularia" que demonstram a evolução por seleção natural para escrever sua denúncia, e que eu refutasse. Apenas um deles! E me remeteu ao artigo de Majerus, M.; Brunton, C. F. A.; Stalker, J. (2000). A bird’ s eye view of the peppered moth. Journal of Evolutionary Biology 13: 155-159.

Respondi ao Pazza que é impossível para um cientista ler todos os artigos científicos. Não li todos os artigos, mas os mais importantes. Especialmente o de Majerus. O texto recomendado não trouxe nada de novo que explicasse a origem das mariposas ou da evolução em ação diante de nossos olhos através da seleção natural.

Os autores concluíram que “past attempts to assess the relative fitness of the [light and dark] forms, using formal predation experiments, have been flawed for two reasons. First, moths have been placed out on the wrong parts of trees... Second, moths have been placed out in positions appropriate to their phenotype on the basis of human perception, without consideration of the UV element of the moths’ pattern, or that of the substrates.” Apesar da conclusão, eles afirmaram sua crença “that differences in the relative crypsis of the forms of the peppered moth, leading to differential bird predation, has been, and is, crucial to the temporal and spatial changes in frequencies of the forms.”

Pazza, replicar o quê se eles simplesmente apresentaram evidências do por que as experiências feitas estavam erradas e, apesar disso, afirmaram sua ‘fé’ na história clássica de Kettlewell? Sobre a fé de Majerus no caso das mariposas, eu sugeri um artigo de Jonathan Wells. Eu mantive a denúncia do uso de duas fraudes em alguns livros de Biologia.

Concordo com a sugestão de Pazza: para criticar um assunto, é necessário estar completamente inteirado dele, e que não basta ler uma resenha ou um resumo, e achar que já entende do assunto. O artigo de Majerus citado por ele seria apenas um dos que corroboram o processo de seleção natural, mesmo corrigindo o procedimento utilizado em outros trabalhos. Será mesmo?

Pazza comentou que o artigo mencionado de Majerus não é um reforço à crença, mas reforço de evidências. Destacou que é o trabalho da ciência, corrigir problemas e ajustar teorias, pois é assim que a ciência funciona. Será que é mesmo assim que a ciência funciona? A natureza abomina o vácuo, e a ciência o vazio epistemológico. Será? Se o neodarwinismo foi considerado uma teoria morta em 1980, isto significa que Pazza e os demais cientistas estão fazendo ciência sob qual referencial teórico?

Vazio epistêmico? E dá para se fazer ciência assim? Pazza e os cientistas darwinistas estão fazendo ciência evolutiva como o piloto de um Boeing num vôo cego e sem piloto automático!

Pazza, num rompante al sugo pazzano, me pediu para refutar os experimentos que corroboraram a ação da seleção natural nas mariposas Biston betularia. Ele sabe que sou um historiador da ciência em formação. Daí o rompante petulante. Mas eu nem preciso fazer isso, pois outros cientistas já o fizeram, e a tentativa de Majerus de livrar a cara da seleção natural de Darwin deu com os burros na água. E aí, alguém me belisque, Pazza afirmou que as mariposas ainda continuam sendo um exemplo de seleção natural, devido à imensidão de artigos publicados sobre o assunto e que são complementares ou que corroboram os experimentos iniciais, apesar das dificuldades iniciais. Que tipo de evolução aconteceu aqui? Microevolução ou macroevolução. Pazza não disse, mas ele sabe que foi somente microevolução — mudança apenas de cores nas mariposas.

Depois Pazza me sugeriu o último artigo de Majerus sobre as mariposas Biston betularia: Industrial Melanism in the Peppered Moth, Biston betularia: An Excellent Teaching Example of Darwinian Evolution in Action, in Evolution: Education and Outreach, Março de 2009, e que eu verificasse o porquê de minhas acusações serem infundadas. Uau! Tem uma cambada de cientistas que vai junto comigo nessa: eles ousaram contestar Majerus!

Eu comentei sobre a que ponto chega a racionalidade dos darwinistas. Primeiro, sou instado a replicar um artigo científico. Fui lá e não vi nada que replicar. Depois, a acusação infundada de que o design inteligente é criacionismo. De duas, uma: ou Pazza não sabe o que é criacionismo (ideias derivadas de relatos sagrados de criação) e nem o que é design inteligente (ideias derivadas da natureza - complexidade irredutível de sistemas biológicos e informação digital complexa especificada do tipo encontrado no DNA).

Além disso, o que estava em jogo no Observatório da Imprensa era a suposta desonestidade de uma jornalista. Eu contrapus com a desonestidade real de alguns autores de livros didáticos de Biologia com duas fraudes sabidas pelos biólogos que foram aprovados pelo MEC/SEMTEC/PNLEM. Quando é que os darwinistas ortodoxos vão admitir suas fraudes e erros cometidos desde 1859? Ao que tudo indica, nunca.

Conforme mencionei acima, eu apresentei oralmente no II Congresso Nacional de Licenciaturas - 2009 (Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP) um trabalho sobre as zonas de incertezas nas ciências da evolução química e biológica baseado na sugestão de Edgar Morin à UNESCO para uma educação do futuro. Gente, isso foi em 1999, mas não faz parte das grades curriculares das licenciaturas de Biologia no Brasil. São pinceladas de quatro décadas de artigos de especialistas em biologia evolutiva questionando algum aspecto das atuais teorias da origem e evolução da vida no contexto de justificação teórica. Os professores que assistiram minha apresentação se confessaram surpresos e indignados ao saberem das duas fraudes e das demais 'zonas de incertezas' sabidas pelos biólogos e cientistas evolucionistas há quatro décadas. Isso porque fizeram licenciatura de Biologia...

Só por que eu perguntei a Pazza qual teoria evolutiva nós temos hoje. Ele pediu para eu não perder a compostura, pois Eugenie Scott chama o movimento do Design Inteligente de neocriacionismo há mais de dez anos. Quem é Eugenie Scott? Uma atéia que faz parte de uma ONG que promove caninamente o ensino de “somente Darwin” em sala de aula? Ronald Chambers, historiador da ciência, ex-adventista, hoje evolucionista de carteirinha, diz que esta é maneira mais fácil de tentar desqualificar a TDI.

Pazza desconhece, mas há ateus que conseguem enxergar plausibilidade científica na TDI: Thomas Nagel "Public Education and Intelligent Design", Philosophy & Public Affairs 36, no. 2 (2008), e Bradley Monton:

“even though I'm an atheist, I'm of the opinion that the arguments for intelligent design are stronger than most realize... I maintain that it is legitimate to view intelligent design as science, that there are somewhat plausible arguments for the existence of a cosmic designer, and that intelligent design should be taught in public school science classes.”

Como sempre soi entre os darwinistas ortodoxos, fundamentalistas, pós-modernos, chiques e perfumados a la Dawkins, Pazza inferiu orwellianamente que se eu não encontrei o que refutar nos artigos por ele citados é porque eu sei que não há nada errado ou não tenho condições de fazê-lo. Eu já apontei, mas Pazza, doutor em genética, não percebe: as mariposas Biston betularia são exemplos de seleção natural produzindo apenas microevolução. Todavia, continua sendo utilizada nos livros didáticos de Biologia de ensino médio como sendo ‘prova’ científica do fato, Fato, FATO da evolução, mas sem qualificar para os alunos que tipo de evolução ocorreu.

Eu estou com Pazza e não abro: ele apontou poder haver desonestidade na veiculação da notícia, e temer pela acurácia de notícias em outras áreas. Eu ainda continuo com Pazza e não abro quanto aos questionamentos sobre os processos evolutivos, que isto faz parte da ciência, e que qualquer teoria pode ser questionada.

Eu discordo de Pazza quanto à inexistência de evidência contrária do que sabemos e ensinamos sobre evolução, pois a cada número de publicações científicas nós temos mais e mais demonstrações dos processos evolutivos em ação. Na apresentação oral de meu trabalho há pouco mencionado, eu relaciono mais de 100 publicações científicas em que especialistas de renome em diversas áreas científicas questionam uma ou mais linhas de evidências que corroborariam a evolução num contexto de justificação teórica.

Pazza me recomendou ler Proulx e Servedio, ou Latta e Gardner da edição de Agosto da Evolution, e lesse bem o artigo de Majerus sobre o caso das mariposas para parar de fazer denúncias vazias, pois isto poderia prejudicar minha credibilidade. Uau! Gente, confesso, eu nem tremi na minha base acadêmica!!!

Relembrando: as mariposas Biston betularia aparecem em alguns livros didáticos de Biologia do ensino médio aprovados pelo MEC/SEMTEC/PNLEM como sendo uma prova a favor da evolução através da seleção natural. A crítica séria que se faz, e Pazza parece não aceitar, é que evidentemente não surgiram novas mutações que resultou no melanismo.

As mariposas escuras já estavam na população. O que houve foi apenas flutuação de populações e não evolução. Afinal de contas, pela atual teoria geral da evolução somente mutações é que podem criar informação - a seleção natural somente elimina, não cria. Considerando-se que as mariposas salpicadas não exibiram nenhuma nova mutação, QED: elas não podem servir como prova a favor da evolução.

Quanto às zonas de incertezas das atuais teorias da evolução química e biológica elas são: a origem da vida, a embriologia e o desenvolvimento, o registro fóssil, as árvores filogenéticas, e a seleção natural e os mecanismos evolutivos. O neodarwinismo (Síntese Evolutiva Moderna) não é corroborado no contexto de justificação teórica nessas áreas científicas e, brevemente em 2010, nós teremos uma nova teoria da evolução: a Síntese Evolutiva Ampliada, que deve relegar a seleção natural a um plano secundário. E com este comentário eu encerrei minha presença lá no OI: Pazza, foi um prazer!

Ter saído assim, de maneira elegante, e não podendo voltar a comentar, foi o meu erro, pois a dupla Kavalco-Pazza destacou que a minha afirmação sobre o caso das mariposas demonstrou que eu não entendo o que é evolução. Como se eu não soubesse que as mutações, assim como a recombinação, são as fontes principais da variação, necessárias para o processo de evolução ocorrer, quer seja por meio de seleção natural ou por deriva genética.

Gente, eu sei tanto a respeito desses supostos processos evolutivos que, carinhosamente neste blog eu ironizo: se não for X, então Y; se não for Y, então Z; se não for Z, então todo o ABC. Eu me dirigia a um público leigo, e Pazza afirmou que a minha idéia sobre o que é evolução é extremamente distorcida. E me perguntou, sabendo que eu não podia mais responder, qual seria o limite entre a minha ignorância e a desonestidade. Eu devolvo a Pazza esta arrogância al sugo pazzano: qual é a sua ignorância e desonestidade em relação às zonas de incertezas das ciências da evolução química e biológica?

Finalmente entrou Kavalco afirmando que eu tinha disparado um tiro contra meu pé, pois o meu texto apenas mostrava que eu não sei o que é Evolução Biológica, e nem o que a Nova Síntese ou Neodarwinismo propõe. Uau! Minha mãe me ensinou a ser sempre gentil com as mulheres, mas Kavalco vai ser uma exceção. Para ela, a evolução deve ser um conhecimento esotérico extremamente complexo somente cognoscível pelos illuminati. Nada mais falso. Darwin escreveu o Origem das Espécies explicando a evolução para o público não-especializado. Uma nota: o livro não foi o best-seller como é propagado. Em seis edições vendeu uns 30.000 exemplares. A população da Inglaterra da época de Darwin era de 30.000.000 (trinta milhões). E ainda dizem que foi uma revolução!

Quando faço ciência, Kavalco, eu não coloco um deus das lacunas para resolver problemas. Quem lança do expediente “Darwin das lacunas” é a dupla Kavalco-Pazza e os demais cientistas darwinistas que diante de anomalias que a Nova Síntese não responde, se vêm forçados a lançar mão de teorias ad hoc para salvar a cara de Darwin do vexame epistêmico. Kavalco, a vidente, colocou palavras no meu texto: a mutação surgiria em resposta ao meio. Onde, Kavalco, isso apareceu no meu texto?

Quem gritou aos ventos que o neodarwinismo está errado não fui eu. Foi Stephen Jay Gould em 1980: o neodarwinismo é uma teoria epistemicamente morta que teima posar como ortodoxia apenas nos livros-texto de Biologia. Será que Gould não sabia nada de evolução?

A dupla Kavalco-Pazza disse que o tiro foi no pé do Enézio, que nos comentários estava pensando nos leigos. No entanto, a vitória da dupla Kavalco-Pazza foi uma vitória de Pirro. E um estrago devastador para a Nomenklatura científica: um maior número de pessoas que não lê este blog, acessa o Observatório da Imprensa. São 27 mil leitores. Eles vão ficar sabendo que a desonestidade na informação científica não se deu apenas com a jornalista (Pazza já reconheceu que não houve isso), mas também com autores de livros didáticos de Biologia do ensino médio aprovados pelo MEC/SEMTEC/PNLEM.

Uma hora dessas, o controle de danos da Nomenklatura científica deve estar pensando qual pena será imposta a Kavalco-Pazza:

1. Procurar as evidências para corroborar o fato, Fato, FATO da evolução no contexto de justificação teórica?

2. Silêncio obsequioso?

3. Ou exilá-los definitivamente para as ilhas Galápagos?

Como eu sou bonzinho, eu sugiro que a pena imposta à dupla Kavalco-Pazza seja procurar sinais de design na natureza. Pista para tornar leve a pena: todas as vezes que eles encontrarem complexidade irredutível de sistemas biológicos e a informação complexa especificada eles estarão corroborando a teoria do Design Inteligente num contexto de justificação teórica.

O tiro foi mesmo no pé do Enézio? Ou foi a dupla Kavalco-Pazza que provocou um estrago devastador para a Nomenklatura científica?

27.000 leitores do Observatório da Imprensa ficaram sabendo das fraudes e evidências científicas distorcidas a favor da evolução nos livros didáticos de Biologia aprovados pelo MEC/SEMTEC/PNLEM.

Muito obrigado, Kavalco-Pazza!!! Que venga la nueva teoría de evolución que no será seleccionista!